Cultural e histórico, o uso de chupetas é amplamente propagado
no Brasil, tanto que só em 2011 foram vendidas 141 milhões de unidades no país.
O acessório é o número um da bolsa de diversas mamães, que o utilizam para
acalmar os pequenos. O próprio nome em inglês já diz tudo: “Pacifier”. Ele
atende uma das necessidades mais básicas do bebê, que é o instinto da sucção.
Mas, se por um lado dá prazer e cessa instantaneamente o choro, de outro, ele
poderá ocasionar alguns prejuízos ao desenvolvimento normal da dentição da
criança, se não for removido no tempo adequado. As chupetas também podem
favorecer as infecções recorrentes de boca e garganta se a criança tiver o
hábito de usá-la durante todo o dia, encostando-a em lugares contaminados e
levando-a depois à boca.
De acordo com o ortodontista Ricardo Machado Cruz, presidente
daAssociação Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial (ABOR), os hábitos
bucais chamados deletérios, como chupar chupeta, dedos e lábios, devem ser
encarados como problemas sérios em uma clínica ortodôntica, pois podem levar ao
aparecimento de maloclusões (dentes desalinhados), alterações na forma do
palato (céu da boca), distúrbios de fala e até no padrão da
respiração. “Entretanto, nem todo hábito é capaz de causar alteração
na forma das arcadas dentárias ou na posição individual dos dentes”, pondera.
Assim, ainda segundo o ortodontista, necessita-se avaliar a
frequência, a duração e a intensidade desse hábito deletério, como também o
padrão de crescimento facial da criança. “Cada paciente deve ser avaliado
individualmente e, geralmente, outros profissionais afins, como psicólogos,
otorrinos e fonoaudiólogos, devem ser consultados. Existem crianças que trazem
o hábito de chupar o dedo desde a vida intrauterina, tornando a remoção do
mesmo bem mais difícil”, explica Machado Cruz.
Outro hábito que pode atrapalhar o desenvolvimento normal das
arcadas dentárias e dos músculos da mastigação é a alimentação do bebê
utilizando mamadeiras com bicos inadequados. O ideal e recomendável é sempre a
amamentação natural, mas quando não é possível, devem-se escolher bicos
ortodônticos que simulem a anatomia do seio materno. O especialista revela que
os movimentos feitos pela língua, pelos lábios e pelos músculos das bochechas
ao se alimentar com uma mamadeira com bico inadequado, são bem diferentes
daqueles utilizados para retirar o leite do seio da mãe. “Por isso, bebês que
usam mamadeiras podem ter dificuldade para sugar o leite materno. Os orifícios
nos bicos são bem mais abertos, de modo que eles não precisam fazer nenhum
esforço para receber o leite. Já no seio materno, o leite sai em menor
quantidade e a criança tem que se esforçar bem mais, trabalhando adequadamente
a musculatura. O hábito de uso de chupetas também pode desestimular a criança a
mamar no seio materno. Com isso, a produção de leite diminui, a criança fica
com fome e não ganha peso, o que leva ao desmame precoce”, conta o
ortodontista. E a falta de leite da mãe pode deixar as crianças mais
vulneráveis a doenças como desnutrição, infecções respiratórias e diarréias.
No entanto, a chupeta só apresenta alguns benefícios quando é
usada para substituir o hábito de chupar o dedo. “Entre o hábito de sucção de
chupetas e o de sucção de dedos, a sucção de chupetas é menos prejudicial”,
comenta. Mas nesses casos, deve ser utilizada somente dentro do berço, quando
for dormir, e nunca pendurada ao pescoço de forma acessível à criança o tempo
todo.
A ABOR recomenda a remoção destes hábitos por volta dos dois ou
três anos de idade. Cessado o hábito deletério nessa fase, os problemas
ocorridos até então podem normalmente ser solucionados por si só, sem a
intervenção do ortodontista. Além disso, nessa idade, após uma conversa com os
pais e o profissional, a criança já pode compreender os danos que a chupeta ou
os dedos podem causar, e a remoção do hábito não causaria tantos danos
psicológicos.
Entretanto, se a conversa não fizer efeito, os ortodontistas têm
ampla experiência para orientar os pais nessa remoção, dando dicas de métodos
eficazes. Caso nenhum deles funcione e não haja uma melhora espontânea, o
especialista está apto a instalar dispositivos fixos ou removíveis dentro da
boca que podem auxiliar no tratamento.
Fonte:
Dr. Ricardo Machado Cruz – Presidente da ABOR
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